Nesta quinta-feira (23/10), o Centro Carioca de Especialidades, em Benfica, recebeu profissionais do Programa Melhor em Casa de vários municípios do Estado do Rio de Janeiro. A cidade do Rio de Janeiro sediou o IV Seminário Estadual de Atenção Domiciliar. A gerente administrativa do Programa de Atenção Domiciliar ao Idoso do Rio de Janeiro, Midori Uchino, abriu o evento dando as boas-vindas aos 130 participantes inscritos.
A consultora técnica do Ministério da Saúde, Denise Araujo, e Fabrício Oliveira, da Coordenação de Atenção Especializada do Estado, falaram sobre captação de recursos e números do Programa Melhor em Casa no estado. O Rio de Janeiro conta com cerca de 1.500 profissionais no Serviço de Atenção Domiciliar (SAD), atendendo mais de 8 milhões de pessoas.
“O programa pode crescer muito mais. Vocês precisam cobrar dos seus gestores maior posicionamento. O Programa Melhor em Casa é o programa que melhor remunera os profissionais e podemos adquirir equipamentos, veículos ou quaisquer outros bens para impulsionar o programa, através de emendas parlamentares e recursos fundo a fundo”, esclareceu Denise.
A programação reuniu palestras, debates e oficinas técnicas voltados à qualificação da assistência prestada no domicílio.
Integração da Atenção Domiciliar à Rede de Saúde
Girlana Marano (Assessoria de Programas de Desospitalização da SMS Rio)
A apresentação destacou a articulação do PADI com os demais pontos da Rede de Atenção à Saúde, como hospitais, CER e UPAs. O município do Rio de Janeiro conta com 20 EMAD e 7 EMAP distribuídas em bases hospitalares, com previsão de ampliação para mais uma base no Hospital Cardoso Fontes. A integração das equipes multiprofissionais é elemento crucial para garantir continuidade do cuidado e segurança do paciente em seu lar.
Girlana afirmou: “Foi um processo construído com foco em oferecer um cuidado realmente adequado. Já atuávamos com atenção domiciliar desde 1997. Reunimos todos os que possuíam experiência na área e, em apenas um mês, desenvolvemos o projeto. Trata-se de uma história de sucesso, construída coletivamente e seguimos juntos nesse propósito.”
Contribuição de ferramentas para o acesso Mais Seguro e comportamento seguro para a dinâmica do PADI
Danielle Brandão (Assessora da SUBPAV)
A discussão trouxe dados sobre a ampliação do domínio de grupos armados na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, que passou de 8,8% da área urbana habitada em 2008 para 18,2% em 2023, um aumento de 105,73%. Esse cenário impõe desafios à circulação das equipes e ao acesso aos domicílios. Foram apresentadas estratégias de mitigação de riscos e preservação da integridade dos profissionais, reforçando que a segurança operacional fundamenta para continuidade e eficiência da assistência.
Desospitalização de crianças com condições crônicas complexas
Simone Salles Meiges Lopes (Pediatra do Hospital Municipal Jesus)
A discussão reforçou que a desospitalização oferece benefícios à criança e sua família ao possibilitar reabilitação no lar, com otimização de leitos e menor risco de infecções hospitalares. A pediatra apresentou dados do Hospital Municipal Jesus, que desde 2021 monitora casos elegíveis para desospitalização e acompanha crianças dependentes de tecnologia, como ventilação assistida. Foi destacada a transição epidemiológica na pediatria e o aumento da sobrevida de crianças com doenças graves, que demandam acompanhamento contínuo.
Comunidades compassivas na atenção domiciliar
Alexandre Silva (Consultor Técnico MS), Lívia Coelho (Coord. Médica do PADI) e Lívia Bastos (Supervisora Técnica do PADI)
Foi apresentado o conceito de comunidades (favelas) compassivas, que buscam engajar moradores na construção de redes solidárias de cuidado para pessoas com doenças que ameaçam a vida.
Lívia Coelho relatou: “Confesso que, no início, desacreditei no Alexandre. Se nós (PADI) não conseguíamos chegar a essas favelas, significava que pouquíssimas pessoas conseguiriam. Ele conseguiu. Construiu vínculos dentro da Rocinha, identificou moradores que já ajudavam voluntariamente pessoas em situação de vulnerabilidade, muitas com doenças avançadas, e ofereceu capacitação a elas. Graças a esse trabalho, o projeto alcançou locais que imaginávamos serem inacessíveis. A Favela Compassiva, esse é o nome correto pelo IBGE, não substitui o SUS, mas agrega muito ao serviço domiciliar.”
Cuidados paliativos cardiológicos
Ana Patrícia (Instituto Nacional de Cardiologia)
A especialista apresentou desafios no manejo de sintomas em pacientes com insuficiência cardíaca avançada e reforçou a necessidade de estratégias paliativas que promovam conforto, bem-estar emocional e suporte familiar.
Dinâmica do atendimento domiciliar no Instituto Fernandes Figueira
Daniele Santos (PADI IFF/FIOCRUZ)
A enfermeira apresentou a dinâmica do PADI do IFF. O atendimento ocorre de segunda a sexta-feira, com apoio da Unidade Semi Intensiva nos demais períodos. Entre as atribuições do serviço estão o desenvolvimento do Projeto Terapêutico Singular (PTS), a capacitação de cuidadores, a humanização do cuidado extramuros e a avaliação prévia do domicílio. O trabalho contribui para que crianças com condições crônicas complexas permaneçam em seus lares com segurança e suporte interdisciplinar.
Mesa-redonda sobre transição de cuidado para outros municípios
Mediada por Michelle Marini, contou com Renata Souza (PADI), Priscila Ribeiro (SAD Volta Redonda) e Adalgisa Gomes (SAD Nova Iguaçu). As especialistas discutiram desafios e pactuações para a continuidade do cuidado em territórios distintos do local de internação, garantindo suporte assistencial no retorno ao domicílio.
Protocolo de Regularização Ambulatorial
Germana Périssé (Supervisora Técnica de Equipes PADI)
A apresentação reforçou a importância da formalização da responsabilidade do cuidador no domicílio, assegurando condições adequadas para a recepção da equipe e manutenção do plano de cuidado.
“Após a solicitação para inclusão na lista de atendimento do PADI, o usuário precisa assinar o termo de compromisso. Já vivenciamos situações em que, ao chegar para o atendimento domiciliar, a única pessoa presente era uma criança de cinco anos. Por isso, o termo é essencial, pois assegura que haverá um responsável apto a receber a equipe e acompanhar o cuidado no domicílio.”, explicou Germana.
O IV Seminário Estadual de Atenção Domiciliar consolidou o intercâmbio de práticas entre equipes do Estado do Rio de Janeiro, reforçando avanços já alcançados e direcionando estratégias para ampliação e qualificação da assistência domiciliar no estado.

































