Na sexta-feira (05/09), uma equipe multidisciplinar do Hospital Maternidade Angra dos Reis (HMAR) visitou, pela quarta vez consecutiva, a Aldeia Sapukai em Bracuí, Angra dos Reis, em referência ao Agosto Dourado.
Na verdade, o encontro se transformou em uma troca de experiências, já que as tradições e alguns aspectos culturais indígenas vêm sendo adotados pela maternidade para enriquecer o acolhimento, em respeito à diversidade local.
A equipe do HMAR foi recebida pelo cacique Algemiro da Silva, pelo líder e conselheiro distrital Lucas Benite Xunu Miri e pelo enfermeiro Cleber Santos.
“A evolução dos laços entre a aldeia e o HMAR está sendo muito interessante. Está dentro do nosso pensamento trabalhar a integralidade e conhecer a cultura dos outros, trabalhar os bilinguismos, além das sabedorias e do conhecimento científico, estamos aprendendo sempre. Sou professor e dentro da Educação sempre levo meu conhecimento mítico, minhas crenças e tradições que refletem no meu trabalho. Isso é muito bom”. Comentou o cacique.
Dessa vez, a dinâmica para o encontro apresentada pelo HMAR consistia em um bate-papo informal, visando a troca de saberes, respeitando a colocação de cada um sobre assuntos como amamentação, saúde da mulher, momento do parto e a hora ouro (a primeira hora da mãe com o seu recém-nascido).
“Não queremos que vocês achem que a maternidade é o melhor local para ter seu bebê. O melhor lugar para o bebê nascer é o lugar certo, na hora certa. O que gostaríamos é que quando a gravidez apresentasse algum problema, a gestante seja amparada por toda a rede de apoio de saúde disponível”, informou a médica e diretora executiva do HMAR, Patricia Neves.
A enfermeira obstetra, Karina Ramos exemplificou o acolhimento dado na maternidade: “A gestante é recebida pelos profissionais da triagem. O trabalho de parto a gente considera de acordo com as contrações ritmadas, de três a duas a cada dez minutos, evoluindo para a dilatação do colo uterino. Seguimos a política do Sistema Único de Saúde (SUS), para a redução do óbito materno infantil: buscar o parto mais natural possível. A mulher pode e deve ser a protagonista no momento do parto, podendo decidir a forma mais confortável para ela, deitada, em pé, de cócoras ou sentada, a posição é a mulher quem determina. A ideia é que essa integralidade aproxime as culturas. A cada dia, há mais enfermeiros capacitados para atuar no trabalho de parto”.
Com ajuda do líder Lucas, que fazia a tradução entre o português e o Tupi-Guarani (falado na aldeia pelas mulheres), a enfermeira Karina pode tirar a dúvida de quando o cordão umbilical é cortado na cultura indígena. “O cordão só é cortado depois que a placenta desce”, informou Lucas, e prontamente a enfermeira Karina se prontificou a tentar adaptar a mesma forma para os futuros partos de indígenas na maternidade.
Outra dúvida da equipe do HMAR era como as parteiras conseguiam escutar o coração do bebê na barriga da mãe. E a resposta foi simples e sábia: pela vibração, ao apalpar a barriga.
A cada ano, mais conquistas de saúde, devido a busca do entendimento das culturas, são alcançadas: hoje, a Unidade Básica de Saúde da aldeia já faz o teste do pezinho, sem precisar que o bebê vá a outra unidade.








